domingo, 9 de agosto de 2009

para aqueles que gostam de poesia

Não é sempre que um plágio vira briga judicial. Muitas vezes é homenagem, inspiração. Vimos muito disso no curso do Antonio Cícero. Um bom exemplo é esta obra-prima escrita por Camões. Vale a leitura, vale o tempo que você dispuser, vale cada minuto que você vai gastar para lê-lo e vale reler também. Depois vê embaixo a poesia de Petrarca, que foi o ponto de partida de Camões. Curioso não? Como uma coisa genial, pode ficar mais genial ainda...


Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


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Paz não encontro e nem me quer a guerra;
E temo e espero e ardo e sou gelado
E vôo sobre o céu e jazo à terra;
E nada aperto, e o mundo todo abraço.

Quem me prende não larga nem encerra,
Nem por seu me retém nem abre o laço;
E nem me mata Amor nem me liberta,
Nem me quer vivo nem quer meu trespasso.

Vejo sem olhos, sem ter língua grito;
E anseio por morrer, e peço ajuda;
E me odeio a mim mesmo e amo a sós.

De dor me alimento, chorando rio;
Igualmente desprezo a morte e a luta:
E neste estado estou, mulher, por vós.


(tradução de Antonio Cícero)

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